Os limões da tequila. A tinta da caneta. As paginas do livro. E o açucar do café!

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O lado que não nos deixamos ver.

Era 31 de dezembro. Fui com uns amigos a cidade vizinha, encontrar outros amigos para passar a virada de ano. A maior avenida da cidade era fechada por tradição, era gente indo e vindo, havia um lugar para os carros e cada um com o porta-malas aberto, trazia caixas termicas com bebidas, aperitivos e o que mais fosse possivel. Ficavam todas abertas, nos carros enfileirados e ninguem mexia na caixa alheia, alguns levavam banquinhos, cadeiras, outros preferiam só caminhar de um lado a outro, era virada de ano, se podia tudo. O som era alto, vindo de todos os carros, praticamente impossivel reconhecer um unico som, todas as músicas tocavam juntas, vc mal conseguia ouvir o som que saia da propria boca,se não gritasse o suficiente até doer as cordas vocais pra falar com alguem que estava bem ali do seu lado. Mas ninguem reclamava, tudo bem, todo mundo estava feliz, você conhecia pelo menos metade ou ate mais que isso das pessoas que estavam ali, era uma tradição, era uma festa, as pessoas dançavam enquanto garrafas de champagne eram abertas e se via tampinhas voando junto com gritos de comemoração. Mas havia um momento em que aquela multidão se calava. Sim, por incrivel que pareça, todos se silenciavam, ate os carros, para em unissono fazer a contagem regressiva. BAM! Explosões coloridas de todos os lados, arco iris feitos de estouros em pleno céu negro, abraços, felicitações, idai que você não conhecia alguem? Todo mundo se abraçava como se fossem velhos amigos mesmo assim. O barulho ensurdecedor voltava mas parecia que aquele, era um momento de paz no mundo. Não importava se era criança, jovem, idoso, todo mundo dançava no meio da multidão, não havia vergonha, era uma felicidade estampada. Ja era praticamente manha, e se podia ver o sol apontar ao longe, o céu negro estava a pouco tempo de se tornar azul novamente. Estavamos exaustos, cansados, descabelados e bebados. Resolvemos sair dali e ir ha algumas ruas acima, para tomar café da manhã em alguma padaria e depois ir pra casa e dormir o dia inteiro. Pegamos nossos lanches, sucos e refrigerantes e fomos nos alimentar nas mesinhas simpaticas que haviam numa pracinha em frente a padaria. Estavamos famintos, mas ainda sorriamos, só por estarmos ali em presença uns dos outros. Sabe aquele ditado "tem o olho maior que a barriga"? Pois bem, caberia perfeitamente a nós que compramos mais do que achamos que comeriamos, nunca achei certo jogar comida fora, é um pecado! Arrumamos td encima do papel em que vinha embrulhado, fechamos o refrigente que tbm havia sobrado e jogamos numa lixeira proxima, colocamos o papel com as sobras dos lanches num cantinho, perto de um pilar, para que algum cachorro de rua tivesse a sorte de encontrar. Fomos embora, cantarolando. Duas ou três esquinas á frente, ouviamos um burburinho, como uma comemoração, chegamos a comentar " tem gente com pique festejando ainda e nós aqui morrendo " e rimos. Olhamos pra trás, pra ver se conheciamos alguem e paramos de rir no mesmo instante. Toda a felicidade que haviamos carregado a noite e parte da manhã toda, se desfez no chão naquele momento, olhavamos uns para os outros incredulos. Sim, havia uma comemoração de um pequeno grupo de quatro pessoas, mas não festejavam a virada de ano, festejavam o encontro com alimentos, o fim do barulho angustiante de suas barrigas vazias. Estava ali, uma familia, um pai, uma mãe e dois filhos pequenos, não deviam ter mais que cinco anos, sentados no chão, comendo apressada e desajeitadamente, o que nós haviamos arrumado para a sorte de algum cachorro. Mas a sorte ( se é que se pode chamar assim ) foram daquelas pobres quatro pessoas. Vi meus olhos se encherem d'agua mais rapido do que o sorriso que havia saido de nossos rostos, vimos a criança maior pegar a garrafa de refrigerante e naquela felicidade inocente dizer: " Olha mãe, refrigerante! " e quatro sorrisos surgiram. Era ano novo, e eles estavam felizes. Naquele momento. Mas, e enquanto estavamos todos festejando, bebendo, dançando, onde será que eles estariam passando a madrugada da virada? Revirando lixos, sozinhos em alguma esquina qualquer com suas crianças chorando por sentirem vazio no estomago e nao saberem ao certo porque estão sentindo aquilo, ou porque não podem "curar" aquilo com comida, quando vêem que todos o fazem? Não tem como sabermos. Sabemos que essa outra parte de realidade existe, bem ali na nossa frente, mas quando voce realmente vê como é, te faz mudar todo um conceito de vida. Seguimos em silencio, vez ou outra fazendo um comentario sobre algo, e voltando ao silencio que nos arrebatava ferozmente no caminho para a casa de um tio, onde dormiriamos para ir embora no dia seguinte. Chegamos e havia um farto café da manha á nossa espera. Não comemos. Não apenas porque ja haviamos feito isso a algumas horas atras, mas porque por infintas horas, aquelas cenas não saiam de nossas cabeças. Estavamos exausto e nosso corpo pedia descanço. Eu o fiz antes de pegar no sono, e creio que eles tambem fizeram. Agradecemos fortemente em silencio pela cama, cobertor, teto e a mesa farta que ainda estaria ali quando acordassemos. Agora, era 1 de Janeiro. Inicio de um novo ano. Inicio de uma nova visão e forma de vida.

E se estivesse chovendo? E se não tivessemos comprado comida a mais ? E se tivessemos apenas jogado no lixo ?

Agradeça tudo o que você tem. Doe o que achar que não lhe serve mais. Ajude. Ampare. Observe tudo o que tem, e veja se realmente tem do que se queixar, e se por um momento o fizer sem pensar, como sempre acabamos fazendo. Desculpe-se. Desculpe-se a si mesmo.

11 Vomite suas palavras aqui :D:

Aline Goulart disse...

Hoje estou sensível demais e posso dizer que me emocionei com a sua história. A gente reclama demais. Não damos o devido valor o que temos. Linda postagem. Beijinhos.

Unknown disse...

Blog lindo demais otima combinação rock tequila e tal e esse lado que nçao deixamos os outros ver acho que ele é que nos faz gente

Iguimarães disse...

luciano huck ia adorar hehe

Amanda Laryssa disse...

Que maravilha de história. Gosto de, de vez em quando, refletir a vida. Refletir se agradeço sempre pelo meu computador, minha cama. Que bom que eles também tiveram uma entrada de ano "boa".

saiidademergencia.blogspot.com

Unknown disse...

Hey flor, postei especial da bienal. Dá uma passadinha la
Beijos. Mar
www.Imaginayre.blogspot.com

Elaine Bandeira disse...

Rock, tekila, café e litaratura, não tem como não gostar!
muito legal!

obrigada pela visita no meu blog!
seguindo!

http://floresmaquiadas.blogspot.com/

jay disse...

Curti a história, curti o tipo de pessoa que você é. Garanto que muitos no teu lugar não teriam feito o mesmo que você, ajudar o próximo.

Boa sorte com o blog, abraço.
http://cafezados.blogspot.com

Janaína Pupo disse...

Aiii que isso mexeu comigo.
Beijos linda.

Lua- Eu Crio Moda disse...

Cara muito tenso, realmente eu imaginei toda a cena e me deu vontade de chorar...Parabéns Suzy por trazer a realidade duma forma que realmente possa nos tocar

H. Thiesen disse...

Oi Flor!
Estou retomando o ritmo normal do blog! Obrigada pela tua visita!
BJOS
Lena

WalissonFigueiredo disse...

Muito legal teu blog, muito legal mesmo. Gostei das observações feito nesse teu último texto, bem interessante. Abraço